domingo, 6 de maio de 2012

< Agenda Velha Carminha Morais Essas palavras tão simples que ora escrevo me vieram à mente numa certa manhã. O dia estava apenas começando, a janela do meu quarto estava entreaberta como de costume, então ele chegou devagarzinho, me cumprimentou com o seu hálito quente, sem nem mesmo me perguntar se eu estava disposta a senti-lo naquela manhã de primavera, pois já virou rotina eu acordar me sentindo indisposta e de mau humor –deve ser da idade,pensei –mas naquele momento quando poderia imaginar tão maravilhoso despertar? Esse dia seria diferente, eu tinha a certeza, pois o calor que emanava do telhado do vizinho àquela hora da manhã não era normal. Levantei-me apressada e pensei: isso dá um poema.Eu, que estou no meu dia a dia envolvida com os afazeres domésticos de minha casa,não tenho muito tempo para ficar escrevendo tudo o que acontece. Porém, nesse dia resolvi pegar uma agenda velha que estava ao meu alcancee,engraçado que, essa agenda não tem nem mais espaço, pois ela se tornou o meu caderno de emergências, fica jogada de um canto ao outro e,quando não encontro um papel,é nela que sempre há um cantinho para eu anotar alguma coisa.Porém, naquela manhã, me lembrei dela e fui bisbilhotá-la, lá eu encontrei várias anotações antigas! Letras de músicas compostas para os eventos de Encontro de Casais com Cristo, do qual faço parte. Essa letra aqui,por exemplo, foi escrita no ano de 1998 e é muita coincidência, pois ela também fala sobre o sol. Nós somos filhos do sol Somos guerreiros do Deus de amor Lutamos contra a opressão, desigualdade, desunião. A força que nos conduz vem do Senhor, meu Salvador Unidos no coração, pois Jesus é o capitão. Agora vamos nos unir, pois Jesus Cristo há de vir Queremos que a igreja seja a nossa fortaleza Com vocês que estão aqui. Pasmem! Encontrei também receitas da Ofélia, da Ana Maria Braga. Meu Deus!Quantas coisas eu encontrei nesse caderno que me despertaram saudades! O nome das crianças rabiscadas por eles, mania que todos nós temos de ficar escrevendo o nosso nome em qualquer lugar, mas essa letra estava ainda em formação e um pouco torta nas linhas do caderno e hoje cada um deles está encaminhado na vida, mas a agenda ainda está aqui, comprovando tudo o que digo. Sei que, para algumas pessoas, isso que estou escrevendo pode parecer meio bobo, mas para mim está sendo uma volta ao passado. As lembranças ressoam em minha mente e tenho vontade de chorar, mas isso é muito bom, principalmente porque eles ainda estão perto de mim. É certo que cada um tem a sua vida, e alguns pouco tenho visto, mas a gente sempre se encontra nos momentos de festa familiar.E, ao virar a página, encontro outro verso que escrevi e dei o nome de Rei Sol. Rei Sol Todas as manhãs, ele entra pela minha janela, Vem devagarzinho, me beija aos pouquinhos, Fazendo-me ruborizar. Às vezes, eu sinto me queimar por inteiro Por dentro eu gosto, mas ele não se importa, Continua a me beijar, fazendo-me acordar. Então, me levanto depressa, sem dó nem piedade Você, que me ilumina, eu fecho a cortina. E o boto pra fora, mas você é teimoso, Se sente gostoso e volta a me abraçar. Então, eu me deleito, desisto e aquento E voltas a me apertar, querendo me queimar. Abro a cortina porque não tem jeito Ser sol é perfeito pra quem quer amar. Vieram como num relâmpago as lembranças de minha infância. Ah, quantas saudades! Confesso! Confesso que chorei assim como faço agora. As lembranças ressaltam em minha mente, procurando espaço e querendo cada uma delas ser a primeira em meus pensamentos, mas que bobagem essa disputa! Não sabem elas que todas são importantes em minha vida? Até mesmo aquelasque gostaria de apagar, mas isso não faço porque elas também fazem parte dessa história e me fazem crescer. Cada momento que vivi nesse tempo e espaço são lembranças que não quero apagar. E, para que eu não deixe nenhum momento de fora, é que pretendo um dia escrever as minhas memórias. Mas por onde começar? Devo começar pelas lembranças boas ou pelas que me fizeram sofrer? Mesmo que eu não queira, sei que vou chorar e vou sofrer novamente, porque, como diz o ditado, lembrar do passado é sofrer duas vezes!Mas como deixar de sofrer se em minhas lembranças estão presentes as pessoas que amo e que já se foram? Saudades! Ah, quantas saudades! Tão forte que chega a doer o meu peito, mas sei que não tem mais jeito, tudo o que eu podia fazer para que eles não sofressem na medida da minha capacidade humana eu fiz, e a morte vem para todos independente de sermos rico ou pobre, preto ou branco, todos nós um dia receberemos a sua visita, por isso quero deixar registrada a minha passagem por essa terra, que Deus um dia criou para que nela nós habitássemos e vivêssemos as maravilhas criadas por Ele, usufruindo de uma forma que não nos percamos, pois tudo nos é permitido, mas nem tudo nos convém.

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